Quem Escreve É Escritor
- Julia Chaves
- Jun 26, 2019
- 3 min read

Foi em 2014 que meu pai me presenteou com um livro brasileiro de suspense. A capa tinha a figura de um anão de jardim e o título de “Dias Perfeitos”. Li a orelha e foi questão de segundos para atiçar minha curiosidade. A história do jovem médico psicopata e sua obsessão pela rebelde roteirista conquistou um espaço na curta lista de romances capazes de costurar minhas mãos às páginas até meus olhos alcançarem a última palavra. Não foram necessários muitos dias de leitura para chegar ao final e, ao virar a última página, me deparei com a foto do autor, Raphael Montes. Nunca tinha ouvido falar nem lido nada a respeito, mas fiquei surpresa com o rosto jovial que estampava sua ausência de rugas ou qualquer cabelo branco aparente. Maior foi o choque de realidade ao pousar a vista no ano de seu nascimento: 1990. Sim, Julia, ele realmente nasceu somente três aninhos antes de você.
E assim, a admiração tomou conta da minha pessoa. Pesquisei mais sobre o trabalho dele, comprei dois dos cinco livros publicados e descobri que não estava nem um pouco sozinha no barco. Suas personagens perturbadoras e tramas instigantes já costuraram mais de 80 milhões de mãos nacionais e internacionais. Esse mês, tive o prazer de ir ao lançamento de “Uma Mulher no Escuro”, seu novo livro. A fila de leitores ávidos por sua assinatura passava da porta da Livraria Saraiva. Tenho certeza que o Shopping Rio Sul ficou agradecido. Quando minha vez finalmente chegou, engoli o nervosismo e entreguei meu livro, que ainda cheirava a novo, como um carro zero recém saído da concessionária. Tratei de chutar a vergonha para bem longe da minha consciência, e pedi pra ele também assinar meu exemplar de “Dias Perfeitos”, deixei escapar que foi o livro dele que mais gostei até agora. Meu pai, obviamente, não perdeu tempo e mandou: “Raphael, ela é sua coleguinha, também escreve!”. Muito simpático, Raphael perguntou se eu era escritora. Eu, tímida, falei que escrevia, mas não sei se já poderia me chamar de “escritora”. Ele terminou sua dedicatória, e disparou uma frase que nunca vou esquecer “Quem escreve é escritor”. Simples, né?
No entanto, depois de ler “Uma Mulher no Escuro” em cinco dias, de me pegar gritando com a protagonista em alguns momentos e de classificar o final como um dos mais bem bolados que já li, fiquei arrependida de não ter tido coragem de compartilhar uma convicção com Raphael. Na esperança de que um dia ele leia a crônica de uma jovem aprendiz, compartilharei então com vocês, leitores: tenho uma teoria, e ainda não a abandonei, de que não existem pessoas que não gostam de ler. Aqueles que alegam não gostar de ler nunca encontraram, ou nunca foram incentivados a procurar, um livro que os cativassem de verdade. Seja uma história de amor, um drama familiar, um suspense, um romance policial. A questão é o conteúdo, um estilo e uma história bem contada capaz de prender sua atenção. E, toda vez que algum amigo vem com a velha conversa de “Ah, Julia, foi mal, mas eu não curto muito ler...”, eu sei que sempre vou ter meus exemplares de “Dias Perfeitos” ou “Uma Mulher no Escuro” para emprestar e quebrar esse senso comum. Porque, amigo, vai por mim, esses você vai querer ler até o final.
Obrigada, Raphael Montes!
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