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Ô Ana Júliáaaa

  • Writer: Julia Chaves
    Julia Chaves
  • May 16, 2019
  • 3 min read


Essa semana vi na internet que a banda Los Hermanos estava, em bom português, um pouco de saco cheio de cantar “Ana Júlia”. Li que Marcelo Camelo, inicialmente, nem queria botar a música no primeiro disco, pelo fato de ser uma canção muito comercial e bem diferente do real estilo do grupo, um som mais cabeça, repleto de metáforas e figuras de linguagem. No entanto, considerações à parte, eu estou pensando seriamente em enviar um vídeo de agradecimento ao santo produtor musical que convenceu os jovens e recém descobertos Los Hermanos a incluir a canção no CD. Se fosse para fazer de verdade, seria no estilo Arquivo Confidencial do Faustão. Carregaria na emoção, enchendo os olhos d’água e agradecendo por ele ter, de certa forma (BEM de certa forma), me presenteado com esse refrão tão animado que contém o meu nome. Graças à Deus, meu lado racional não está tão vulnerável assim, por isso pude me remover rapidamente dessa ideia.


Não lembro ao certo em que ocasião ouvi a música pela primeira vez, mas lembro muito nitidamente de toda a classe da alfabetização do ano 2000 começar com o coro “oh Ana Júliaaaaa” toda vez que a professora dizia meu nome na chamada. Mas, para ser bem sincera, o meu amor pela música não foi à primeira vista, ou, nesse caso, à primeira ouvida. Tudo bem, era quase que humanamente impossível não ficar com o aquele refrão chiclete martelando na cabeça, mas me recordo de bater o pé e cruzar os meus bracinhos de seis anos de idade depois da terceira cantoria na hora da chamada. Hoje em dia eu me pergunto se eu realmente ficava com vergonha ao ver todos cantando e olhando pra mim, ou se não passava de uma mera cena e invenção de motivo para fazer cara feia. Se me conheço bem, a segunda opção é a mais provável. Minha mãe tinha certa razão quando dizia que eu nasci com 14 anos.


Entretanto, não demorou muito pra eu deixar o drama de lado e escutar a música inteira. A melodia contagiante e a simplicidade da letra agiram com uma flecha do cupido, me fazendo decorar cada palavra numa rapidez estonteante. Na minha cabecinha, eu me sentia honrada pelo meu nome tocar em todas as rádios e estar entre as músicas mais tocadas do momento. Mas eu sabia que essa honra não era realmente minha, e sim roubada indevidamente de todas as “Anas Júlias” do Brasil. Afinal, na minha carteira de identidade podia-se ler claramente “Julia”, sem nenhum outro nome próprio para enfeitar. Era uma grande frustração. Apesar de gostar do meu nome, lembro de virar para meu pai e perguntar indignada: “por que você não adicionou um simples Ana ao meu nome?!”. Tudo que me separava da vaga esperança de um dia receber uma serenata com essa música era essa palavrinha de três letras. Não que meu futuro pretendente não pudesse simplesmente ignorar o “Ana” e cantar mesmo assim, mas não era a mesma coisa. Eu queria que a canção fosse perfeita pra mim, que todas aquelas declarações de amor pudessem ter sido escritas pra mim, sem ter que mudar ou relevar nada. Não é à toa que a parte que eu mais amo é o final, quando o refrão é repetido pela última vez: “oh Ana Júlia, Júlia Juliáaaa, uou uou uou”. Durante os poucos segundos em que Camelo canta “Julia”, desacompanhado do desgraçado “Ana”, eu posso sonhar que essa música é só minha.


Eu sei que existem outros motivos para eu me orgulhar do meu nome. O significado “luz da juventude” ´é bem bonito, e com certeza combina com meu jeito de ser. A mãe do Johnn Lennon se chamava Julia e, olha só que coisa, ele fez uma música com o nome dela! Mas, apesar de “beatlemaníaca” de carteirinha, eu não seria honesta se dissesse que é uma das músicas que eu mais gosto. Já “Ana Júlia” tem um lugar especial na lista de músicas que marcaram fases da minha vida. Já não me irrito mais por não ter “Ana” no nome. Consigo me contentar em apenas ouvir o refrão. Afinal, ninguém pode negar que o meu nome está lá, e que ele é a melhor parte do refrão, a palavra que fica mais tempo na boca de quem canta. Com tudo isso junto, quem precisa do “Ana” pra ser feliz?

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