Meu Amigo Peter Pan
- Julia Chaves
- May 16, 2019
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Parei de ganhar presente de Dia das Crianças, mais ou menos aos 11 anos de idade e, a cada 12 de outubro que passa, fico pensando no que mudou em mim desde aquele momento em que abri o embrulho que revelava um CD Malhação 2005. Mal sabia eu que, aos 23 anos, meu gosto por música pop não iria muito além das músicas presentes naquela lembrancinha (sim, eu poderia fazer uma festa de hits anos 1990 e 2000 só com a “playlist” do meu Ipod), e que aquele CD encerrava com chave de ouro minha participação na data responsável pela felicidade dos baixinhos e baixinhas da Xuxa.
Quando criança, eu era viciada no filme “A Noviça Rebelde”. Não lembro da primeira vez que assisti, mas lembro de ficar diariamente na frente da TV cantando as músicas (num inglês próprio, que eu mesma inventei e pretendo levar à mídia) e fazendo as coreografias. Ainda sou apaixonada pelo filme, mas acho que aprendi a me controlar um pouquinho no quesito empolgação. Hoje em dia, se eu escutar a trilha sonora em algum lugar, consigo ficar sentadinha cantarolando. Mas na abertura não dá, ainda baixa um santo em mim que me obriga a correr de braços abertos e me imaginar nos alpes austríacos. Ninguém é de ferro, né, gente?
Quando criança, meu programa favorito foi “Chaves” durante um bom tempo. Eu era uma fã tão intensa, que brincava que o Chaves era meu amigo imaginário, meu fiel escudeiro que ia para todo lugar comigo. Não me recordo de como dei adeus ao meu amiguinho fictício, mas lembro de vários outros personagens, artistas e programas que o substituíram, mesmo que não tenham me feito companhia mentalmente. Talvez minha tendência a ficar obcecada por determinados artistas, filmes e peças tenha começado por aí. Vai saber...
Quando criança, não comia nada verde e tinha medo do escuro completo. Ainda sou uma chata pra comer e não durmo sem a luz do corredor acesa. Quando criança, tinha pavor do Chuck, do filme “Brinquedo Assassino”, e ainda acredito que, se existe um demônio, ele deve ter aquela cara. Quando criança, sempre me imaginava dentro dos livros e filmes, e estaria mentindo se dissesse que nunca me imaginei no bar de “How I Met Your Mother” ou que nunca pensei para que casa o chapéu seletor me mandaria em Hogwarts.
Mas de uma coisa eu me lembro mais que tudo: quando criança, eu detestava que me chamassem de criança. Tirava onda dizendo que, como Peter Pan, eu não queria crescer, mas no fundo não via a hora de ser considerada uma adolescente completa, e depois uma adulta responsável por si mesma. Lembro da pressa, de me iludir com a ideia de liberdade e independência que o crescimento falsamente prometia. Lembro de ser feliz e não ter nenhuma noção disso.
Mas calma lá, a idade adulta não correspondeu a todas as minhas inocentes expectativas, mas de forma alguma me decepcionou por completo. Afinal, poder chegar tarde em casa tarde e dormir à hora que eu quiser têm suas vantagens. No entanto, se eu pudesse voltar no tempo, eu chegaria para a Julia de sete anos e diria: “Para que tanta pressa? Brinca um pouco mais de Peter Pan, ele até que sabe das coisas”
Lembro bem do seu amigo Chaves,ele chegou a nos visitar no apartamento da Nascimento Silva, andavamos na praia você, seu pai, eu e o Chaves. E sua avó comentava com minha mãe sobre ele. Afinal ele era seu amigo e acabou sendo nosso querido conhecido!